Ancestrais 34 - Meus ancestrais foram escravizados
- Thiago Gonçalves de Lins
- 22 de ago. de 2023
- 3 min de leitura
De onde vem meu sangue Nigeriano?
Nesse trigésimo quarto capítulo - Ancestrais 34 - irei escrever sobre o meu tetravô Cândido Antônio Diogo que foi escravizado na região de Lages no século XIX.
Meu pai Álvaro Gonçalves de Lins certa vez me disse: "Thiago, tu tens sangue de italiano da tua mãe e de negro e índio, meu".
Nunca esqueci essa frase e a partir de 2019 quando iniciei as pesquisas genealógicas sempre tive muita curiosidade em tentar descobrir algum ancestral que tivesse sido escravizado!
Procurar a descendência africana é dificílimo, embora, não seja impossível. Confesso que por inúmeras vezes desanimei e quando já estava me conformando em não encontrar, para minha surpresa, recebi uma notificação do FamilySearch que alguém havia cadastrado e editado informações sobre o meu tetravô Cândido Antônio Diogo.
Entrei em contato através do FamilySearch com a Elidy Lima e começamos a trocar algumas informações. Fui informado que Maria Emerentina Barboza (neta de Cândido Antônio Diogo) "sempre comentava que uma parte da família foi escravizada".
Nas exaustivas pesquisas procurando por meus ancestrais escravizados, duas famílias surgiram como possíveis: a família Maciel Barboza e a família Diogo, as duas, ligadas diretamente a família Gonçalves Lins. Sim, eu estava no caminho certo!
Naquela mesma noite comecei novamente a olhar página por página os livros de batismo da Igreja Nossa Senhora dos Prazeres (Lages). E assim consta na página 149 do Livro 21: "Aos oito de fevereiro de 1872 (...) batizei e pus os óleos Santos a inocente Maria nascida em três do mês corrente, filha legítima de Cândido, escravo de Senhorinha Dias Baptista, e sua mulher Maria Joaquina Alves da Maia".
|Que descoberta familiar histórica eu havia feito!

Certidão de batismo de Maria das Dores Diogo, filha de Cândido Antônio Diogo (escravizado)
O Teste de Ancestralidade do MyHeritage apontou que tenho 1.4% de DNA Nigeriano, certamente herdado do meu tetravô Cândido.
Cândido era escravo do Capitão Generoso Pereira dos Anjos e após a morte deste em 1856, passou a ser cativo da viúva Senhorinha Dias Baptista. Não encontrei o seu registro de batismo em Lages. O Capitão Generoso era de São Paulo, portanto, uma hipótese pode ser que meu tetravô tenha vindo com ele ou tenha sido comprado, vindo de outra região. Na verdade é impossível saber de fato se Cândido nasceu na Nigéria ou no Brasil - embora eu aposte na segunda opção. Talvez seus pais ou avós tenham sido sequestrados em sua terra natal, atravessado o Atlântico em um navio negreiro e chegado ao Brasil sendo escravizados! Um horror pensar nisso!
As certidões das décadas de 1860 e 1870 citam meu tetravô como escravo. Em certidões da década seguinte ele já é citado com o sobrenome Diogo e não mais escravo. O 1º Tabelionato de Notas e Protestos de Lages guarda nos arquivos inúmeras cartas de alforria de Lages - pode ser uma possibilidade de encontrar mais informações. Conforme dados do Recenseamento Geral do Império, em 1872 existiam 2.012 escravos registrados em Lages.
Mal consigo imaginar quão dura foi a vida do meu tetravô Cândido e de seus pais! Ser escravizado significava que você não valia nada. Aliás, era símbolo do prestígio e poder dos senhores. Você servia aos outros sem nem poder dizer não. Minha trisavó Maria das Dores Diogo certamente nasceu em uma senzala! Teve a sorte de nascer após a promulgação da Lei do Ventre Livre.
Sigo na busca pelo óbito de Cândido Antônio Diogo. Ele foi citado na certidão de casamento dos meus trisavós em 1886. Provavelmente faleceu na última década do século XIX - em certidão de 1901 é citado que ele já era falecido em data ignorada em Campo Belo do Sul.
Minha ascendência na Família de Cândido Antônio Diogo:

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